domingo, 19 de outubro de 2008

Catarina: A lenda de um crime autorizado

Catarina Eufémia (Baleizão, 13 de Fevereiro de 1928 - Monte do Olival, Baleizão, 19 de Maio de 1954), reconhecida, solidáriamente e com sentimento de vingança pelos milhares que testemunharam sua tragédia, como um símbolo da resistência anti-fascista no Alentejo no tempo do Estado Novo; não por nome nem por mais nada, apenas pelas circunstâncias... apenas quem testemunhou, sabe o que sentiu...

Catarina era uma ceifeira portuguesa, no interior alentejano, mãe de 3 filhos, e grávida do quarto. A 19 de Maio de 1954, Catarina e outras 13 ceifeiras foram protestar junto ao feitor da propriedade onde trabalhavam, por um aumento salarial de dois escudos (!). As ceifeiras e o seu protesto foram tomadas como hostis, tendo o feitor mandado chamar o proprietário e a GNR a Beja com a presença da PIDE.

Depois de chegada a GNR, à pergunta de um oficial Catarina terá respondido que tudo o que queriam era "trabalho e pão". O oficial terá respondido com uma bofetada que a mandou ao chão, erguendo-se e afirmando: "Já agora mate-me!". Catarina, de 26 anos de idade, analfabeta, na altura com um filho de 8 meses em seus braços e grávida do quarto filho, terá sido assassinada brutalmente com uma rajada de metrelhadora à queima-roupa, pelas costas... o filho de 8 meses terá ficado ferido na queda, o outro filho ainda por nascer terá morrido com a mãe!

Temendo a reacção da população, as autoridades resolveram realizar o funeral às escondidas, antecipando-o de uma hora em relação àquela que tinham feito constar. Quando se preparavam para iniciar a sua saída às escondidas, o povo correu para o caixão com gritos de protesto, e as forças policiais reprimiram violentamente a população, espancando não só os familiares da falecida, outros rurais de Baleizão, como gente simples de Beja que pretendia associar-se ao funeral.
Nove camponeses foram acusados de desrespeito à autoridade, e condenados à prisão. O oficial, assassino de Catarina, prosseguiu normalmente as suas funções na GNR.

Pergunto-me, como crimes tão horrendos, imorais, desumanos... podem passar impunes...
Ainda hoje em dia muitos recordam Catarina como a real tragédia, símbolo das vítimas e dos crimes cometidos por tal regime...


Poema de Vicente Campinas, em homenagem a Catarina:

Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem P´ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas P´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer.

sábado, 18 de outubro de 2008

Nojo!! Raiva!!

Raiva!!

Raiva ao sistema, por aqueles que sofrem sem justiça!! Ódio, repugnância, pelos que retiram às crianças o direito a serem crianças!! Ódio, a um sistema que semeia o ódio!!

Sinto nojo, por este sistema criminoso e imoral, a que sujeita os mais fracos à exploração contínua, à exploração de uma espécie supostamente racional por si própria!!

Sinto raiva!! Raiva pelas epidemias evitáveis e estúpidamente inevitadas!! Ódio, desprezo por este sistema que propaga a fome em prol do capital, desvalorizando a vida humana!!

Odeio!! Sinto repugnância!! Raiva por este sistema mortífero condenador da vida, da justiça e da liberdade!! Nojo por um sistema que obriga crianças à prostituição, apenas para aliviarem a fome!!

Raiva!! Ódio por um sistema que idolatra o abuso de poder e despreza o trabalho!! Sinto nojo!! Repugnância pelas malditas guerras, existentes apenas para sustentar este maldito sistema, condenando inocentes, vítimas do sistema e da guerra!!

Sinto nojo!! Raiva!! Por este sistema que alimenta o ódio racial!! Ódio por um sistema que atribui ainda mais poder aos que já o têm em demasia, e explora e injustiça aqueles que não têm nada!!

Repugnância!! Ódio por um sistema onde os mais fracos têm de pagar pelos erros dos mais fortes, ainda para além da sua exploração!!


Odeio este sistema, sinto raiva... sabendo que todas estas situações e muitas outras poderiam ser evitadas... mas aqui o dinheiro vale mais que uma vida humana...

Aos senhores do capitalismo e do imperialismo, eu pergunto: "De que vale ser-se humano, senão se possuir um mínimo de humanidade?"


Quero cantar...
Cantar aos pássaros e às pessoas
A razão de um pensar,
Da existência em que voas.

Quero superar as palavras,
E consegui-lo com música,
Na ambição do que pensavas
Em cada pessoa como única.

Para a fogueira quero musicar
E gritar pela noite o hino de todos,
Acalmar todo e qualquer choro
Pela expansão de um novo amar.

Gritar às malhas da Humanidade
E à Terra que não é minha é de todos,
Falar por tudo aquilo que somos...
Um motivo de liberdade!

Vou abençoar esta terra
Negando qualquer dilema,
Pois o Homem não é fera...
Neste terceiro Mundo de nosso Sistema!