
Catarina era uma ceifeira portuguesa, no interior alentejano, mãe de 3 filhos, e grávida do quarto. A 19 de Maio de 1954, Catarina e outras 13 ceifeiras foram protestar junto ao feitor da propriedade onde trabalhavam, por um aumento salarial de dois escudos (!). As ceifeiras e o seu protesto foram tomadas como hostis, tendo o feitor mandado chamar o proprietário e a GNR a Beja com a presença da PIDE.
Depois de chegada a GNR, à pergunta de um oficial Catarina terá respondido que tudo o que queriam era "trabalho e pão". O oficial terá respondido com uma bofetada que a mandou ao chão, erguendo-se e afirmando: "Já agora mate-me!". Catarina, de 26 anos de idade, analfabeta, na altura com um filho de 8 meses em seus braços e grávida do quarto filho, terá sido assassinada brutalmente com uma rajada de metrelhadora à queima-roupa, pelas costas... o filho de 8 meses terá ficado ferido na queda, o outro filho ainda por nascer terá morrido com a mãe!
Temendo a reacção da população, as autoridades resolveram realizar o funeral às escondidas, antecipando-o de uma hora em relação àquela que tinham feito constar. Quando se preparavam para iniciar a sua saída às escondidas, o povo correu para o caixão com gritos de protesto, e as forças policiais reprimiram violentamente a população, espancando não só os familiares da falecida, outros rurais de Baleizão, como gente simples de Beja que pretendia associar-se ao funeral.
Nove camponeses foram acusados de desrespeito à autoridade, e condenados à prisão. O oficial, assassino de Catarina, prosseguiu normalmente as suas funções na GNR.
Pergunto-me, como crimes tão horrendos, imorais, desumanos... podem passar impunes...
Ainda hoje em dia muitos recordam Catarina como a real tragédia, símbolo das vítimas e dos crimes cometidos por tal regime...
Poema de Vicente Campinas, em homenagem a Catarina:
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem P´ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas P´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer.