
Neste caso, uma única pessoa me chama a atenção... um único indivíduo mas que serve tão bem de símbolo aos mais descriminados, e também injustiçados seres humanos no nosso planeta, ou pelo menos no nosso Portugal e em outros países que partilhem do mesmo sistema.
Numa bela noite, em que apenas necessitava de sair de casa e apanhar um pouco de ar fresco, decido acompanhar um amigo ao Estoril que ia buscar a namorada. Na vinda, a caminho de Algés, eu sentado sozinho num daqueles agrupamentos de quatro bancos no comboio, entra um indivíduo negro já de certa idade, cego e óbviamente pertencente à classe trabalhadora (ou que pertencera, uma vez que era cego) devido às vestes visivélmente pobres e maltratadas. Bom, o meu amigo ajudou o homem a encontrar o caminho para o banco. O seu rosto era feito de mágoa, as suas mãos de calos... era uma imagem que sem dúvida a mim fazia tremer de solidariedade, e de vontade de ajudar ou fazer algo... mas a minha condição de popular não o permite. A determinada altura, este homem humilde canta baixinho para si mesmo, canções diria eu outrora de outros tempos, mas ainda assim enquadravam-se na perfeição nos tempos de agora. Canções revolucionárias, mas talvez até não fosse essa a natureza real dessas canções... eram canções de humildade, que falavam da tristeza de um homem que trabalhava dia e noite para sustentar a sua família, e que não dava importância às injustiças sofridas por si, pois apenas lhe interessava o seu dever social: o trabalho, por mais forçado que fosse, pois apenas isso o permitia sustentar aqueles que tanto ama: a sua família.
Era capaz de jurar, que vi o homem chorar para si... perguntei-me a mim mesmo que histórias passadas será que esconde aquele homem, aquele pobre trabalhador, aquele ser descriminado!
Um dia alguém o disse: "Se você tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros", foi Che Guevara que o disse, e posso dizer que concordo a 100% com isto, eu como revolucionário e tantos outros, pressentimos cá dentro as mágoas de outros... queremos lutar tanto e ao mesmo tempo tão pouco podemos fazer por aqueles que mais precisam... a angústia e a compaixão sentida por aqueles que tanto sofrem neste Mundo...
Um dia, à mais de cem anos, onde ainda não havia nenhum conceito de Capitalismo, Socialismo e mais o que quiserem, um filósofo e economista já achava degradante o estado do Mundo, a pobreza injustificável e a injustiça intolerável... não havia portanto naquela altura capitalistas nem comunistas... havia apenas aquilo a que hoje se chama Capitalismo Selvagem.
Esse alguém, tentando fazer algo para melhorar o estado da população em todo o Mundo, elaborou a partir do sistema que já havia e que hoje há (Capitalismo Selvagem, hoje apenas Capitalismo), um sistema mais igual, mais justo, em que era possível conceder condições humanas a toda a gente que o seja... protegendo o trabalhador da injustiça sem descriminar o poder hierárquico do patronato (naquela altura a burguesia). Essa pessoa era Karl Marx, fundador do Marxismo, a primeira e ainda a mais seguida vertente do Socialismo, ainda hoje com esse nome mas já sendo maioritáriamente Revisionista. Mas ainda assim, muitos não o consideram o primeiro, pois alguns consideram como o primeiro comunista Jesus Cristo, alguém que lutou do lado do povo, para combater a desigualdade e o poder dos Romanos.
Muitos nos chamam sonhadores e que desejamos o impossível e por vezes até a maldade, pois bem, também foi o que chamaram em tempos aos républicanos e aos jacobinos da Revolução Francesa!
Na história que referi mais acima no texto, disse que saíra de casa apenas para apanhar um pouco de ar e encontrar com um amigo... sinto compaixão, ao pensar que tantos outros não saiam de casa para apanhar ar, simplesmente por não terem uma, ou que não saiam para ir ter com um amigo, por não os terem, traídos pela vida...
Abaixo neste texto está um outro poema escrito por mim, o primeiro que escrevo em homenagem a outra pessoa que não conheço... mas que apenas vi e me inspirou um tal espírito chamado de revolucionário, e senti solidariedade... por esse, e por tantos outros...
Talvez um dia, a imagem do Socialismo manchada por tantos desapareça, e os mais necessitados possam respirar livremente... talvez um dia...
Em tempos de guerra...
Guerra social
Apenas governa a fera,
Alimentando a muitos o mal.
É neste Mundo a lutar,
Que algures na maldade herança
Oiço o cantar de um pobre popular...
Um cantar de esperança!
É algo que me faz pensar...
A discriminação, o limite e o esforçar,
E ainda assim a humildade
De um pobre trabalhador,
Guardando para si toda a dor
Do preconceito desta cidade.
O pensar na razão de tudo isto...
Na injusta e tão imperfeita sociedade,
E que num Mundo ainda assim misto
Toda a massa luta por igualdade.
Aqui o chorar de um cego, o berrar de uma criança
Não serve de nada,
Enquanto os maiores receberem a herança
Daquilo que tanto mata!
Mas ainda assim,
O cantar de um cego ganha plateia,
Pelo desesperado fim
De um sistema que não nomeia!
Mas talvez um dia,
A este e tantos outros...
Talvez um dia,
A estes venham louros...